05/11/2015

OMUNGA AGUARDA POSICONAMENTO DA COMISSÃO AFRICANA EM RELAÇÃO À GRAVE SITUAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EM ANGOLA


A 57ª Sessão Ordinária da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, teve o seu início ontem, 5 de Novembro de 2015, aqui em Banjul. A partir do dia de ontem, os representantes dos Estados e os representantes das organizações com o Estatuto de Observadores da Comissão Africana, tem vindo a apresentar as suas declarações sobre a situação dos Direitos Humanos em África.
Durante o período da manhã de hoje, a Omunga fez a apresentação da sua declaração. No entanto, esta associação ainda pretende apresentar, durante a Sessão, outras declarações temáticas no que se refere aos Direitos Económicos e Sociais, os Direitos dos Defensores de Direitos Humanos e os Direitos dos Migrantes em África.
Eis o teor da declaração:

Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos
57ª Sessão Ordinária - Banjul
OMUNGA
DECLARAÇÃO - SITUAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Digna Presidente da Comissão Africana
Senhoras e senhores comissários, representantes dos Estados, dos organismos internacionais, da sociedade civil e convidados.
A OMUNGA faz-se presente nesta sessão para transmitir a sua enorme inquietação em relação ao drástico agravamento da situação dos Direitos Humanos em Angola, a todos os níveis, durante apenas este ano.
A nossa associação reconhece que a crise do petróleo não é uma responsabilidade da nossa presidência da república e que ela realmente é um enorme obstáculo à consolidação da nossa economia e do exercício maior dos direitos económicos, sociais e culturais.
No entanto, também todos sabemos que os factores de má gestão e de má governação são, aliados à falta de transparência e à corrupção, os principais elementos que levam o nosso país para o caos.
Reconhecemos a existência de um quadro legal e de instituições que deveriam realmente combater estes males. Infelizmente, na prática, nada acontece. Toda a hora acompanhamos pela média, escândalos de corrupção, um pouco por todo o mundo, da Europa à Ásia, passando pela América, onde sempre se envolve o nome de Angola. Se noutros países são abertos processos de investigação, infelizmente em Angola, nenhum caso foi ainda investigado. Antes pelo contrário, toda as tentativas de denúncia são imediatamente reprimidas. Apenas a nível de exemplo, o líder desportivo António Mosquito, levantou queixa junto da procuradoria-geral da república, com denúncias sobre a existência de corrupção no próprio desporto, neste caso no girabola nacional. Como consequência, o presidente da Federação Angolana de Futebol (FAF) considerando não existirem provas, condenou o referido dirigente a suspensão e multa, embora o mesmo presidente da federação tivera assumido anteriormente ter conhecimento da existência dessa prática a nível do futebol e de outras modalidades.
A má gestão desta crise limitou grandemente o investimento público no sector social o que tem provocado uma degradação fundamentalmente a nível da saúde e da educação. Lembrar que Angola já era, mesmo no tempo do "el dorado", um recordista mundial a nível de mortalidade infantil.
Com a má gestão da crise, tem aumentado o desemprego e o emprego provisório. Só a nível de exemplo, o que acompanhamos é o despedimento de milhares de trabalhadores a nível do sector petrolífero, sendo previsível ainda mais o seu aumento.
Por outro lado, os salários continuam muito baixos e cada vez mais atrasados, não podendo confrontar-se como o acelerado aumento do custo de vida.
Infelizmente assistimos à aprovação, ainda este ano, da nova lei geral de trabalho que vem precisamente reforçar o poder do patronato em detrimento dos direitos trabalhistas.
Por outro lado, como forma de solucionar algumas das nossas situações, a presidência da república optou por privatizar serviços básicos, como é o caso da recolha de lixos urbanos. O resultado tem sido catastrófico transformando as nossas cidades num autêntico amontoado de lixo diminuindo a nossa qualidade de vida e pondo em risco a própria população.
Digna Presidente
Senhoras e senhores Comissários, representantes dos Estados, dos Organismos Internacionais, da sociedade civil, convidados
Acompanhando este agravamento da situação económica e social do nosso país, aumentou a repressão e a limitação dos direitos civis e políticos.
Em resposta a este contexto crítico de Angola, temos vindo a acompanhar tomadas de posição concretas exigindo o respeito pelas liberdades e pela democracia. Enunciamos, a título de exemplo, os posicionamentos do parlamento europeu e das Nações Unidas. Infelizmente não tivemos a mesma possibilidade de vermos um enérgico posicionamento da Comissão Africana em relação ao caso Angola. Esperamos que desta sessão de produzam os necessários posicionamentos.
É verdade que a presidência de Angola tem tentado a todo o custo, mudar esta imagem negativa sobre o país. Foi assim que o presidente da república nomeou recentemente o embaixador itinerante que tem esse objectivo. Limpar a imagem degradada do presidente da república e do sistema angolano em vigor.
É prova disso, a presença de uma delegação considerada da sociedade civil angolana a participar pela primeira vez no Fórum das ONGs que antecedeu esta sessão. Esta delegação é assessorada pelo Dr. Belarmino Van-Dúnem que coincidentemente tem ligações directas com a presidência da república. Estiveram ainda presentes membros do ministério das relações exteriores e do ministério do interior. O objectivo é o mesmo.
Infelizmente, os factos não se escondem com meros actos de marketing. A repressão contra os manifestantes, o assassinato do morro do Sumi, a limitação dos jornalistas, são infelizmente factos reais e não mera alucinação dos defensores dos direitos humanos.
Como exemplo, temos vindo cada vez mais a apercebermos do uso e abuso do judiciário enquanto ferramenta do poder político, especialmente do presidente da república. É o caso da condenação de Marcos Mavungo, em Cabinda, a seis anos de prisão e as restrições impostas ao advogado Arão Tempo, também em Cabinda, enquanto aguarda julgamento. Só para exemplificar, o mesmo não pode sair de Cabinda para qualquer outra parte do país, não podendo assim exercer a sua profissão e ficando a depender de gestos de caridade.
Outro exemplo, relaciona-se com as declarações do advogado David Mendes à DW onde garante que o seu constituinte, o cidadão Kalupetekam foi influenciado pelo juiz para que mudasse de advogado. O mesmo garante ainda que o juiz decidiu não reconstituir os factos do morro do Sumi porque confia nas informações da polícia. Como isto pode ser possível se a própria polícia é parte do processo? Esperamos que a Comissão Africana apoie o pedido das Nações Unidas para que se crie uma comissão independente que possa desenvolver o processo de investigação sobre o caso do Morro Sumi.
Se já todos temos conhecimento do famoso caso dos 15 + 2 activistas que continuam detidos aguardando julgamento há mais de 4 meses, a 30 de Outubro, duas manifestações em Angola foram reprimidas, tendo sido uma em Malange e outra no Lobito, cidade de onde venho. Se os cidadãos detidos em Malange já tenham sido postos em liberdade, infelizmente, 18 manifestantes do Lobito continuam detidos e aguardando julgamento sumário. Essas manifestações realizavam-se em solidariedade com os activistas presos em Luanda e Cabinda.
O controlo da vida e do trabalho das organizações da sociedade civil foi finalmente formalizado por decreto presidencial, ainda este ano. Como aparente resultado disso, as organizações de direitos humanos como a OMUNGA, a AJPD e a SOS Habitat estão impedidas de fazer qualquer movimentação das suas contas bancárias.
Para terminar, pretendemos referir-nos às eleições autárquicas. Embora conste na nossa Constituição desde há vários anos, sempre são adiadas por decisão presidencial. Sem espanto, ouvimos o Vice-presidente, em nome do presidente da república, enquanto lia o discurso sobre o Estado da Nação na abertura de mais um ano legislativo da Assembleia Nacional, de que teremos ainda que continuar a esperar pelo exercício desse direito.
Digna Presidente
Senhoras e senhores Comissários, representantes dos Estados, dos Organismos Internacionais, da sociedade civil e convidados

Muito Obrigado

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